quinta-feira, 27 de outubro de 2016

AVISO À GALERA QUE ME ACOMPANHA AQUI


Como vocês devem ter notado, o blog está parado há bem mais de um ano. Minha vida está passando por uma fase muito produtiva, cheia de novidades e mudanças. Isso é ótimo, mas meu tempo está cada vez mais escasso e preciso tomar algumas decisões importantes.

Uma dessas decisões, que me tomou um bocado de tempo e me fez pensar muito nos últimos meses, é encerrar este blog. Todas as histórias e artigos que escrevi aqui irão para outros arquivos, Em breve, darei início a uma nova fase, com uma página própria na internet. O novo espaço será concentrado em meus trabalhos de literatura de ficção, mas devo abrir um cantinho para crônicas do cotidiano e artigos relacionados a direitos humanos, como vinha fazendo aqui. Talvez, em mais algum tempo, também abra um espaço para vídeos sobre diferentes assuntos, principalmente literatura e direitos humanos.

Em breve, farei um anúncio no Facebook e Twitter sobre meu novo espaço, minha nova casa na internet. Nesse meio tempo, apagarei as postagens antigas neste blog. Para quem não sabe, meus contatos nas redes são:

Facebook: www.facebook.com/eduardo.peret
Twitter: twitter.com/eduardoperet
Instagram: www.instagram.com/leperet/

Foi muito bom ser acompanhado por tanta gente legal, que me apoiou todo esse tempo. Mais de 25 mil visualizações! Eu não queria simplesmente sumir daqui, nem deixar tanta gente "órfã", ainda mais quando estou prestes a começar uma nova etapa e, com certeza, espero poder contar com vocês. Esse espaço foi muito importante para mim, mas seu tempo passou e quem me conhece sabe que detesto deixar pontas soltas.

Muito obrigado pela atenção, pelo apoio e por acreditarem em mim. Por enquanto é só, pessoal!

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Por ser gay


Por ser gay

- Fui zoado por familiares, vizinhos e colegas de escola na infância e adolescência, antes mesmo de eu saber da minha sexualidade;

- Tudo que eu fazia e dizia era "estranho", " coisa de maluco", mesmo que fosse exatamente igual ao que todo mundo fazia/dizia - isso se chama deslocamento: quando você não quer falar abertamente do que te incomoda na pessoa, você fica procurando as mínimas diferenças pra zoar. E se não achar nenhuma, inventa;

- Professoras na escola deram poder aos meus colegas para me vigiarem e perseguirem, com impunidade, até que meti a mão na cara de um e fui parar na direção. Só aí pararam (um pouco) de me perseguir;

- Fui cantado por namorado de parenta, namorado de colega, marido de amiga e colega de escola, os mesmos que me zoavam e até me hostilizavam abertamente em público, mas queriam experimentar em particular. Alguns eu comi mesmo, sem remorsos; quem estava traindo não era eu, afinal. 

- Tive que abandonar estágio e interromper o processo de obtenção do diploma de técnico, porque não aguentava a pressão diária de colegas e chefes;

- Fui preterido em vaga de emprego e trocado por alguém muito menos qualificado, mas " normal" - limitaram-se a me dizer que "eu não seria feliz ali";

- Fui espancado em banheiro de escola, na rua, em porta de bar;

- Fui perseguido na rua, inclusive pela polícia;

- Sofri tentativa de estupro, mais de uma vez, porque "gay deve gostar de tomar";

- Sofri pressão emocional e psicológica de parentes e colegas que queriam que eu sumisse;

- Fui humilhado pelo meu próprio pai, que me disse que eu "morreria de AIDS, sozinho, antes dos 30, na sarjeta, porque esse era o destino de todos os pervertidos da minha laia". Ele iria me pedir desculpas cerca de 20 anos mais tarde.

- Fui expulso de casa, o que interrompeu meus planos de fazer faculdade e me forçou a procurar emprego. Mesmo voltando pra casa um ano depois, tinha que me sustentar e isso adiou minha vida acadêmica e crescimento profissional em quase dez anos;

- Fui preterido em concorrência para promoção no trabalho, apesar de ser mais qualificado, em favor de um "macho" que saía com colegas casadas;

- Minha pesquisa de mestrado foi vista com preconceito, como "defesa de gueto" e demorei a ser levado a sério no meio acadêmico;

- Por fim, uma série de fatores externos à minha vontade interrompeu minha carreira acadêmica algumas vezes e causou atrasos que me levaram a só conseguir entrar para o doutorado mais de vinte anos após ter começado a faculdade que já tinha começado atrasada em dez anos. Ou seja, trinta anos de atraso que não podem ser recuperados. Claro que a homofobia não foi o único fator, mas sem dúvida está na raiz de tudo. Os problemas com preconceito tendem a se acumular ao longo do tempo, tanto na vida quanto no coração, ocasionando problemas de baixa auto-estima, depressão e outros, que dificultam ainda mais o progresso.

E isso é apenas um resumo do resumo, sem muitos exemplos, pegando leve. Não vou expor os detalhes da perseguição diária, dos apelidos, das musiquinhas humilhantes, do jornal da escola pedindo "morte aos gays", das tentativas de exorcismo por fanáticos religiosos, das revistas em blitz apenas por andar sozinho na rua à noite, saindo da boate, nem da perseguição policial por estar andando com travestis e drag queens a caminho do trabalho na boate. Não estou postando isso aqui para pedir sua compaixão, mas para demonstrar um ponto:

Essa é só a minha história. Há outras muito, muito piores. Há histórias de pessoas que não sobreviveram. Há histórias de pessoas que ficaram cegas, paraplégicas, queimadas, amputadas, com dano cerebral permanente, só porque são LGBT. Eu sobrevivi, estou saudável, trabalhando, estudando, crescendo. Mesmo à beira dos 50 anos e com grandes atrasos, estou realizando meus sonhos.

Se você não sofreu alguma dessas coisas especificamente por ser heterossexual, repita comigo:

Heterofobia não existe.

"Orgulho hétero" é só uma falácia de falsa simetria; não tem que haver celebração de orgulho de quem não sofre perseguição.